A Voz que Grita no silêncio do nosso coração (2o. Dom. do Advento)
A liturgia do segundo domingo de advento é um apelo à conversão na espera do encontro com Deus. Na primeira leitura, o profeta Isaías anuncia a boa Nova: “Eis que vosso Deus vem com poder. Como um pastor Ele apascenta o rebanho, reúne os cordeiros e carrega-os no colo. Ele mesmo tange as ovelhas-mães”.
O povo de Israel precisava ouvir essas palavras de consolo, porque deportado, longe de sua pátria, sem liberdade, sem Templo para a oração, vivia perdido e desanimado. “ Consolai o meu povo, falai ao coração de Jerusalém que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida”.
Deus cumpre a promessa. O povo é libertado dos opressores, ele volta para Jerusalém e reconstrói o Templo, mas, falta algo: não está incólume dos seus pecados. Precisa de uma libertação mais profunda. Então Deus envia a Jesus, o Salvador que veio tornar realidade a profecia de Isaías. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me consagrou, para anunciar a Boa Notícia aos pobres, devolver a vista aos cegos, libertar os presos, e anunciar um ano de graça”.
Com a presença de Jesus, o Reino de Deus está entre nós. Mas o pecado continua impedindo que esse projeto de Deus se realize em plenitude. O pecado não é uma invenção da Igreja ou das religiões para manipular a consciência do povo. O pecado é uma realidade e tem sua raiz no coração do ser humano e atrapalha a realização do Reino de Jesus.
O primeiro passo para a realização do Reino de Jesus é admitir a presença do pecado, arrepender-se e mudar de vida. “Convertei-vos porque o Reino dos céus está perto. Preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas”.
Esse é o convite de Deus para todos nós neste segundo domingo de advento. Retirar-nos no deserto silencioso para olhar para dentro de nós, e descobrir quem somos, como somos, como agimos, como reagimos, como cuidamos de nós mesmos, como cuidamos dos outros, como cuidamos das nossas relações humanas na família, com a esposa, com o marido, com os filhos, com os amigos. O que é que prevalece em nós? A humildade e a compreensão ou o orgulho e a intolerância? O Papa escreve: “Nossos corações estão tão cheios de barulho do mundo que não nos deixa escutar essa silenciosa presença que bate nas nossas portas”.
Esse ano é diferente; nesse ano vai prevalecer o silêncio em lugar das festas; haverá mais silêncio também no natal. Será um Natal mais parecido ao primeiro Natal, o de 2000 anos atrás da Gruta de Belém. Apenas mugidos dos bois e o canto do glória pelo coro dos anjos. E Jesus aprendeu a fazer silêncio. O silêncio na vida de Jesus nos impressiona. Ele proclama a Boa Nova somente depois de 30 anos de silenciosa meditação; logo retira-se ao deserto a sós durante 40 dias e 40 noites, para depois iniciar a missão. E durante a missão, por vezes retirava-se à montanha, para rezar, na prática permanente de escuta e oração.
Impressiona igualmente o silêncio da família de Nazaré. Lucas diz que Maria conservava esses fatos e os meditava em seu coração. José por sua vez, sempre pronto a escutar a voz de Deus através dos anjos, jamais profere uma palavra.
Jesus reza em silêncio no Horto das Oliveiras. Diante da mulher pecadora e os julgadores que queriam matá-la, Jesus faz silêncio, se limita a escrever com o dedo no chão, num silêncio que além de interpelar a consciência dos doutores da lei, inverte os papéis do tribunal improvisado. Os acusadores passaram a ser acusados, e se retiram um por vez e a acusada sem proferir palavra torna-se uma espécie de Juiz.
O silêncio possui esse segredo: é milagroso, transmite sentimentos e emoções que as palavras são incapazes de expressar. No silêncio nos encontramos conosco mesmos e então percebemos que há pedras no nosso caminho que impedem o caminho para Deus.
O Natal desse ano será diferente, mais silencioso. Não tenhas medo. Aproveita para olhar para dentro de ti e te conheças melhor. Faze um pouco mais de silêncio, tira a máscara, não, use máscara, a máscara contra o coronavirus. Vais descobrir qual é a raiz do mal que está impedindo a tua felicidade. Qual a raiz das tuas desmesuradas preocupações e angústias?!
Jesus vem a nós e nos ama desde as nossas fragilidade. Como o pastor Ele apascenta o rebanho, reúne os cordeiros e carrega-os no colo. Ele é o Deus-conosco, Ele é o Emanuel.
Maranatha! Come, Lord Jesus! Vem Senhor Jesus!
Published on December 3, 2020