A Alegria da partilha
O terceiro domingo do advento chama-se domingo “gaudete” isto é, da alegria: “alegrem-se, regozijem-se”. As leituras falam de regozijo porque Deus vem salvar o seu povo. “Exulto de alegria no Senhor e minha alma se regozija em meu Deus”, proclama o profeta Isaías. “A minha alma se alegra no meu Deus”, reza o salmo.
A alegria é expressão de felicidade. É comum a gente pensar que a felicidade depende de coisas externas; quanto mais coisas possuímos, mais felizes somos. Imaginamos que somente seremos felizes de verdade se alcançarmos tudo o que desejamos. Há uma frase no entanto, que os gregos repetiam: “Quando os deuses odeiam uma pessoa, atendem a todos os seus pedidos”. Isto é, concedem tudo o que ela pede e deseja e ao possuir tudo, ela se farta imediatamente, se angustia e se torna infeliz.
É um erro pensar que somente alcançamos a felicidade quando temos tudo, quando tudo está bem, porque na verdade nunca somos totalmente felizes, mesmo porque sofremos quando as pessoas queridas estão sofrendo.
O contrário também é verdade. Pensamos que não seremos pessoas felizes se tivermos problemas na vida, mas é possível sentir certo tipo de alegria ou de regozijo mesmo nas grandes dificuldades. Há pessoas que também em épocas de crise são capazes de levar um sorriso nos lábios. Tenho certeza que vocês conhecem pessoas assim, alegres apesar do sofrimento, tranquilas apesar dos problemas, sorridentes apesar da dor. Pessoas que enfrentam até a morte com um sorriso. E como se explica isso?
De onde vem esse regozijo? Qual é a fonte da alegria e felicidade?
Alegria é um estado de espírito; ela tem uma causa que a provoca e a cria. A principal causa da alegria é o amor. Deus é amor. E o amor a Deus e ao próximo podem causar alegria e regozijo. Onde existe ódio e egoísmo, a alegria não se sustenta porque a pessoa acaba encontrando o vazio interior. Muitos não encontram alegria porque não amam, não partilham, não ajudam. Vivem isolados em si mesmos.
São Paulo na segunda leitura diz, “Estai sempre alegres! Rezai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias”.
Como poderíamos estar sempre alegres e dar graças neste Natal? Como conciliar o vírus da morte com a fonte da vida? Como celebrar o nascimento em meio a tantos sepultamentos? Como preparar a festa natalina com milhares de famílias enlutadas? Como estreitar laços, relações e encontros sem comprometer a saúde? Como viver o regozijo se temos medo? Será possível ter um Natal 2020 alegre?
No evangelho desses domingos de advento, J Batista deu-nos alguns conselhos surpreendentes e simples: preparai o caminho do Senhor, quem tem duas túnicas comparte com aquele que não tem, não engane a ninguém, diga somente a verdade, não acuse falsamente, perdoe a quem te ofendeu. Só assim haverá Natal.
O místico alemão A. Silesius asseverou que Cristo pode nascer mil vezes, e nascerá em vão se não nascer em nosso coração. Porque o berço de Deus não é mais a estrebaria mas o coração humano.
Então a alegria profetizada por Isaías encontrará a sua plenitude em nossos corações e não será arrebatada nem mesmo pelo Coronavirus, porque é a alegria que brota do encontro de Amor entre você e Deus Emanuel.
Published on December 11, 2020