Ele falava com autoridade

Ele falava com autoridade

Os  que escutavam Jesus, ficavam admirados e diziam: “De onde recebeu ele tudo isso? Como conseguiu tanta sabedoria? Ele fala com autoridade e não como os escribas”.  Autoridade é diferente de autoritarismo. A autoridade  nasce e se difunde não com o grito e a força, o domínio ou a opressão. Ao contrário, cresce com o testemunho, com os argumentos da razão e com a coerência de vida. O padre, o prefeito, o diretor, o coordenador de pastoral, só tem autoridade se for coerente com o que fala e se estiver a serviço dos seus subalternos. Toda liderança deve ser exercida com autoridade.

De onde lhe vem essa autoridade? A autoridade  de Jesus vem de vários fatores: da intensa escuta da vontade do Pai,  da sensibilidade para com as necessidades do povo, especialmente os pobres e marginalizados, e da coerência entre o que Ele pregava e o que fazia.

De acordo com o evangelho, eram frequentes  os momentos de intimidade de Jesus com o Pai. O silêncio e a oração aparecem  como escuta da vontade de Deus. Por isso, Jesus  sempre  fala  em nome d’Aquele que o enviou. “ O Pai e eu somos um” “Eu faço as obras daquele que me enviou”.

A autoridade então não lhe vinha de títulos honoríficos, – ninguém ainda o chamava  de Cristo, Messias , Senhor, mas apenas de Jesus; a autoridade vinha da sintonia com o Pai e no confronto com o comportamento incoerente e hipócrita dos escribas, fariseus e saduceus. Estes enchiam a boca com o nome do Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó, mas reduziam  Deus a um fazedor de leis a ser observadas.  Ao passo que para Jesus,  Deus se converte em  íntimidade Abba (=Papai).

A atitude do silêncio, oração e escuta tem suas raízes na longa trajetória do Povo de Israel. Deus ouvia o clamor do seu povo: “Escuta Israel, ouve Israel, faça memória. Deus te libertou das garras dos Faraós”.  É memória  da libertação do Egito.

Na Nova Aliança é Jesus que  ouve o clamor do seu povo.  Está clara nos evangelhos a predileção de Jesus pelo povo marginalizado, pelos indefesos, pelos  últimos. Provam isso  suas palavras e suas ações. O  seu ministério  é marcado pela presença de pobres, doentes e pecadores e por  “órfãos, viúvas e estrangeiros”,  classes sociais já defendidos no Antigo Testamento, mas que em Jesus encontram infinita misericórdia e compaixão.

Tanto é verdade que nunca ignora a quem grita por socorro, “Filho de David tem piedade de mim” gritava o cego ao longo do caminho; não ignora mesmo quando o grito não passa de um toque tímido,  e cheio de esperança, como é o caso da mulher que há doze anos sofria de hemorragia. Atento, e para escândalo de não poucos, Jesus se detém, cura, conforta e perdoa,  como na parábola do Bom Samaritano, com a conclusão de “Se quiser entrar na vida eterna, vai e faze o mesmo”.

Diversamente dos profetas do Antigo Testamento, Jesus privilegia não o anúnco de um julgamento  terrível, e sim a Boa Notícia de um grande banquete no Reino, uma festa onde todos são convidados,  com  preferência para os pobres, os aflitos, os que choram, os mansos, os perseguidos do sermão da Montanha. Semelhante atitude, evidentemente, contagiava  e fazia vibrar cordas adormecidas no coração e na alma de quem o ouvia, conferindo-lhe mais e mais autoridade. “E todos ficavam espantados e diziam:  Ele fala com autoridade, não como os mestres da lei”.

Os mestres da lei se enchiam a boca  com o nome de Deus para  separar as pessoas puras e  impuras, agraciadas e malditas, boas e más. Jesus não explica teorias, e nem teologia, Ele age em favor das pessoas e mostra que Deus é  amor e misericórdia para com todos. O espírito impuro que Jesus expulsou estava dentro da Sinagoga e dentro deles e pode estar dentro de nós, na cabeça de padres, bispos e leigos, dentro da nossa Igreja, em dia de domingo, em espaço sagrado e em dia sagrado.

Jesus tem poder! Veio para nos libertar dos espíritos impuros. Ele  expulsa os espíritos maus, tem poder  contra todas as forças do mal, as forças do ódio, das divisões, da exclusão e do racismo. Ele veio inaugurar o Reino de Deus. Reino onde  reina Deus porque há amor,  fé, comunidade, perdão, reconciliação e misericórdia. Amém.

Published on February 1, 2021