O ser humano, dizia o filósofo grego Aristóteles, é um ser social, um ser em comunicação, ninguém é uma ilha. Todo ser humano vive em relação com o outro, com o tu e por mais que queira ser independente e fazer o que bem quiser com a sua vida, sem se importar com os outros, não é possível; seria um isolamento egoísta, uma atitude individualista que prejudica a sociedade como um todo. Não querer receber a vacina contra o Covid-19 somente por uma questão ideológica, por exemplo, é não se importar com os outros e portanto não é uma atitude social sadia e nem cristã.
E nesta relação com o tu, com a sociedade, todos nós, precisamos da aprovação dos outros. As crianças esperam a aprovação da professora, dos pais. Os idosos esperam a aprovação por aquilo que realizaram durante a vida. Também o padre espera a aprovação dos fiéis, como os pais, esperam dos filhos. A aprovação é algo que todos nós esperamos e é um desejo legítimo porque nos faz sentir dignos de viver em sociedade. Os outros nos aprovam e nós sentimos satisfação. Se alguém disser: “Não me importa o que os outros pensam ou digam de mim”, é uma expressão de rebeldia, mas não verdadeira.
No entanto, não basta a aprovação dos outros para ser felizes. Se a felicidade dependesse unicamente da aprovação e admiração dos outros, as estrelas de Hollywood, os artistas e as modelos seriam as pessoas mais felizes. E sabemos que não é bem assim. Haja vista o número deles e delas afundados em drogas.
Neste domingo celebramos o batismo de Jesus no Rio Jordão. “O céu se abriu e se ouviu uma voz do céu que dizia: “ Este é o meu Filho muito amado em quem ponho o meu benquerer, escutai-o”. Jesus foi apresentado e aprovado pelo Pai. A apresentação e a aprovação do Pai Celestial é o que conta na nossa vida, é o que mais importa, porque a aprovação das pessoas pode ser um elogio vazio e passageiro.
Todos somos criaturas de Deus em relação com os outros, o Batismo nos faz filhos e filhas de Deus em relação com o Pai, que nos diz: “Esse é meu filho, essa é minha filhinha amada”.
O batismo de Jesus, é o segundo gesto, depois do natal, de Deus abraçando a humanidade. O céu que o pecado de Adão e Eva tinha fechado, abriu-se, e Jesus viu descer o Espírito de Deus em forma de pomba: é a consagração de Jesus para a Missão Messiânica. Há 300 anos o povo não escutava a voz de um profeta. Entre Malaquias, último livro e último profeta do Antigo Testamento e João Batista, e Jesus, passaram-se 300 anos. Deus havia silenciado. Agora Deus voltou a falar através do Messias com linguagem de paz, de justiça e de amor. Deus encerrou o seu silêncio, e fez uma tenda no meio de nós.
O povo de Israel, para entrar na Terra Prometida atravessou o Rio Jordão, no batismo Jesus entra no rio Jordão para levar o seu povo a uma Nova Terra, uma Nova Criação, a recriação do Homem Novo, da Terra Nova. “ O Espírito de Deus está sobre mim, enviou-me para dar vista aos cegos, libertar os cativos e anunciar um ano de graça do Senhor”.
O batismo de Jesus é o começo dessa Nova Missão, “anunciar um ano da graça do Senhor”; uma missão que não acaba com a morte de Jesus mas que continua com o nosso batismo: “Ide por todo o mundo e fazei que todos os povos sejam meus discípulos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
O batismo portanto, não é apenas um rito, uma bênção, mas é o início de uma missão. Com o batismo participamos do sacerdócio real de Cristo, da mesma missão de Cristo que é dar vista aos cegos, libertar os presos, levar a Boa notícia aos pobres. Portanto, para que ano 2021 seja um ano de graça do Senhor, sejamos pessoas de paz, de bem, contra qualquer violência, contra a discriminação, contra a extrema direita e a extrema esquerda. Essa foi a missão de Jesus e essa é a nossa missão: semear a paz, a misericórdia, o perdão, o bem.
Como será então o nosso relacionamento com a família? Com a comunidade? Com os colegas de trabalho? Com a sociedade? O que vamos postar nas redes sociais? O que vamos semear? A quem vamos apoiar, aos que defendem a vida e os direitos para todos ou os que defendem com violência seus interesses particulares?
O batismo nos purificou, nos tornou Templos do Espírito Santo, nos abriu as portas da Eternidade, nos fez filhos e filhas de Deus, membros vivos da Igreja e naquele dia ouvimos a voz amorosa do Pai: “Este é meu filhinho amado, esta é minha filhinha amada”.
Published on January 10, 2021